
RevistaRia 2022
A revista virtual da Ria Livraria - edição anual
Próximos lançamentos na Ria Livraria
Rua Marinho Falcão, 58 - Sumarezinho
das 16h às 00h
fone: (11) 2158-0920
27 de maio | 18h
Lançamento do livro Nelson Rodrigues e a psicanálise, de Fernanda Hamann
(Ed. 7 Letras)
28 de maio | 19h
Lançamento do livro A Gaveta, o lápis e o papel, de Luiz Renato Souza Pinto
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O TESTEMUNHO DAS FILHAS DE LÓ
Em nosso favor temos a dizer que
Jamais conseguiríamos obrigar nosso pai a tomar qualquer bebida
Que jamais poderíamos olhar para nosso pai nu, depois da maldição que sofreu Cam
Por ter visto a nudez de seu pai, Noé
Que ainda que quiséssemos fazer isso de que nos acusam
Temos a dizer que nosso pai é velho e como nos teria possuído, às duas, embriagado?
Temos a dizer que não queríamos sair de Zoar para habitar com nosso pai uma caverna
Em nosso favor, invocamos o exemplo de nossa mãe morta por simples desobediência
Expomos aqui que vivíamos em luto e que por temor a um deus que transforma
mulheres em sal
Obedeceríamos às ordens de nosso pai, e não o contrário
Temos a dizer que quando invasores bateram à nossa porta, ainda em Sodoma
Nosso pai disse a eles: tenho duas filhas virgens, façam com elas o que quiserem
Suplicamos que compreendam que a descendência de nosso pai
Nos era tão importante quanto o era para o deus que matou sua mulher
Sabemos que sobre o lado fraco se pode caluniar qualquer coisa
E nós duas não temos sequer os nossos nomes
Em nosso favor, temos a dizer que
Quando acordamos
Já estávamos grávidas.
Adriane Garcia
Poemas inéditos.
Seu novo livro "A bandeja de Salomé" sairá pela Caos & Letras neste ano.
A COR DOS OLHOS DE LIA
Busco seu amor com esse desespero
Das mulheres que não puderam aprender de si
A não ser sobre os modos de agradar a um homem
A não ser este olhar pedinte e terno
Quero que passe por mim e não perceba
O quanto sou feia, o quanto meu nome
Pode significar vaca selvagem, sei que prefere
Uma ovelha mansa, bonita como Raquel
Sonho com nosso casamento assim como
Sonho com meu casamento com um homem
De qualquer nome, desde que me ame, desde que
Me diga a mim quem sou, pois sou apenas mulher
Vejo meu pai me dando à sua cama, enganando
Ninguém, já que conhece bem a voz de Raquel
Nesta noite em que fingimos que sou ela
Porque quem mendiga amor toma de empréstimo
Ouço o sino do desprezo, torno-me esposa
Você trocando nossos nomes, enquanto me toma
Mais sete anos para que meu pai lhe venda
Outra mulher, outra de nós, e faça um bom negócio
Gero um filho, sei que agora me amará
Gero outro filho, tudo ficará melhor do que antes
Gero mais um filho, você ficará ligado a mim
E mais outro, as mulheres dirão que sou feliz
Aprendo a carregar barrigas, a ser mãe e mãe
E mãe e mãe e mãe à exaustão dos dias
A esperança em cada filho amortecida
(pareço sempre pior na sua presença)
Quedo no tempo registrado no corpo, estou parindo
Raquel está parindo e você é viril em nossas servas
Deus se lembra de nós nos dando mais filhos
Você sequer se lembra da cor dos meus olhos.
* Todos esses poemas são do livro inédito A bandeja de Salomé.
Adriane Garcia, poeta, nascida e residente em Belo Horizonte. Publicou Fábulas para
adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura 2013, ed. Biblioteca do Paraná, 2ª
edição pela ed. Confraria do Vento, 2017 e e-book pela Camino Editorial, 2021), O
nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (ed. Confraria do
Vento, 2015), Embrulhado para viagem (col. Leve um Livro, 2016), Garrafas ao mar
(ed. Penalux, 2018), Arraial do Curral del Rei - a desmemória dos bois (ed. Conceito
Editorial, 2019), Eva-proto-poeta (ed. Caos & Letras, 2020) e Estive no fim do mundo e
me lembrei de você (ed. Peirópolis, 2022).

Das coisas e dois elefantes azuis virados de costas
Renata Belmonte
Eu até tinha uns trocados, mas sabia que o sinal já ia abrir, então falei: fica para a próxima. Ela me lançou um olhar ofendido como se me perguntasse: e quando é a próxima? Será que você não vê que uma velha como eu não tem próxima? Com essas condições, você acha que ainda vou viver muito para esperar a sua próxima?

Uma vez e outra também erro
Michelli Provensi
Ela acredita que vagalumes são materializados pelo inconsciente coletivo. Eu da minha parte desconfio de parentes de besouros que só os machos são alados, mas acho lindo escuro e pirilampo. Ela odeia falar pirilampos. Diz que dá vontade de fazer pipi.

sufocada pela desmemória
Resenha do livro Cheia, de Natália Zuccala
por Laura Redfern Navarro
Afinal, talvez o mais angustiante de todo o romance não seja o esquecimento de Amanda acerca dos fatos, mas dela mesma. Assim, a presença de diversas violências que a atravessam sejam conflituosas, essencialmente, por lembrarem a protagonista de si própria, ou, ainda, de sua realidade.

O balão amarelo
Lima Trindade
Meu bem, agora, falava animado. Eu não o ouvia. De repente parou, deteve os olhos em mim e se virou de costas. Procurei o balão no céu. Ele já avançava sobre os postes de luz improvisados. E recordei da estranha manhã em que eu era muito pequeno e mal tinha aprendido a andar.
Foto: Marcelo Frazão

Poemas
de Daniela Avelar
uma criança constrói uma torre
para ser destruída:
alegria
pelos blocos que se espalham no chão
Foto: Tiago Luz

Para que afinal se faça luz!
Resenha do livro Para os que ficam, de Alex Andrade
por Krishnamurti Goes dos Anjos
Um escritor que se preze terá sempre e incansavelmente que retomar, reabrir e redimensionar temas, segundo sua visão-de-mundo. Indagações, perplexidades e desesperos humanos estão sempre a convocar e atualizar os temas básicos da existência.

O engodo de Laura
Andreas Chamorro
Laura reparou num monumento metálico, como dois grampos gigantes de papel que dançassem juntos. Três homens tomavam banho com a luz daquela manhã de dez de agosto deitados de olhos fechados, as roupas pretas e quentes, as peles imundas: poeira presa à semanas de suadeiras. Laura, você poderia estar na rua.

Ensaio sobre o livro Soluções de dois estados, de Michel Laub
por Euler Lopes
Sem maniqueísmos, o que temos é uma deliciosa personagem gorda, que se utiliza da ironia para defender suas ideias e que se, por um lado, não nega a sua existência e o que isso gera; por outro, apresenta suas ambiguidades.
Poemas
de Maria Eduarda Lima
tia glenda cospe lágrimas
a cada passada em meus cachos
me diz que estou bonita
que sou boa

O vaso
Renata Fiorenzano Marques
Brincava com a primalhada, em número maior a cada ano. Tinha o primo do primo. Tinha o "esse também deve ser teu primo". Todo mundo virava primo nas brincadeiras de rua, futebol, abafa, peteca, pique-tá. Passados uns dias, nem me lembrava mais de São Paulo.
Rara flor ferida
Fabio Santiago
Seria poesia
a ferida
que habitava o meu pé ferido?
Foto: Angela Grochocki Santiago

Farpas
Resenha de Júpiter Marte Saturno, de Irka Barrios
por Juliana Cunha
De contos fortes, sintéticos e sem metáforas óbvias, é difícil dizer sobre o livro, é mais fácil senti-lo. É ser ferido por uma farpa.

Minchoni elabora reflexões teóricas sobre as relações entre o poeta e o palhaço, os brincantes, partindo de sua experiência de mais de 20 anos como poeta da fala
Foto: Renato Nascimento

Coronárias: mulheres escrevem a pandemia
Fernanda Hamann
O testemunho de Levi me ensinou que, numa guerra, o escritor é o mais importante. Porque pode afetar as pessoas, gerações de pessoas, e fazê-las pensar que as guerras nem deveriam acontecer.
Poemas
de João Nunes Junior
o dólar a quase 6 e nós
aqui lidando com as estrelas
enquanto o suor retorna
para as cavernas do amor.

Há de brotar asas dentro de nós
Resenha do livro Nem sinal de asas, de Marcela Dantés
A personagem de Dantés é extremamente humana, e talvez por isso, ela tenha asas invisíveis que crescem como nódulos prestes a transformá-la em múmia, em corpo cristalizado, em morte.
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