
RevistaRia 2022
A revista virtual da Ria Livraria - edição anual
Contos, poemas, artigos, resenhas e lançamentos na Ria Livraria.
Rua Marinho Falcão, 58 - Sumarezinho
das 16h às 00h
fone: (11) 2158-0920
Quer lançar seu livro na Ria? Entre em contato.
O fluxo de energia na poesia de Zoë Naiman Rozenbaum

Por: Lorraine Ramos Assis
O elemento água constitui-se a partir de descrições a simbolizarem o âmago da ternura: origem da vida, a fecundidade, a fertilidade, a transformação, a purificação, a força e a limpeza.
Todas essas características marcadas pela possibilidade de se realizar o esperançoso, deflagrando o espaço de um sinuoso mergulho a quem queira se purificar e se manter na ternura. Ou não.
Talvez sejam essas as características marcantes na obra híbrida de estreia da poeta e cientista social Zoë Naiman Rozenbaum, Mergulho em apneia (2020), trazendo temas a exemplo do questionamento do existir humano; o controle a ser exercido sobre si mesma, seja pelos demais ou pelo próprio sujeito lírico; a corporeidade e seu inevitável recurso sinestésico; e a escrita como mantenedora da pungência da raiva direcionado à criticidade.
Executado por 12 sessões, o livro e os títulos iniciais demarcatórios produzem o emergir aos poemas, evocando a instalação com o encontro relativo à natureza, enrijecendo - mas sem perder a fluidez marítima - um sentimento vital registrado nos elementos água, terra, ar, fogo. Como bem expressado na primeira sessão:
no livro da vida, descobri que ler é verbo, sangue é tinta, e meu corpo, um caderno; um mar de palavras.
Se no livro da vida, que ao estar disposto nas páginas em branco e na grafia do imaginário, o indivíduo, estruturalmente, nas palavras do filósofo Heidegger, é estar com os outros e consigo mesmo e junto a tudo o que existe no mundo, seja concreto ou imaginado. Dentro desses termos, o escritor iria se utilizar de uma linguagem no intuito de colocar em evidência o existir humano em sua concretude.
Em um dos seus textos se demonstra o questionamento existencial. 'Regresso' (sessão 3):
sou mais feliz onde quero estar
porque cansei de gritar
falar besteira
deixar um monstro marinho
me controlar.
Neste fluxo discursivo da fala há expressão de certeza, mas também da própria questão de se indagar, tendo em vista uma problemática pela narradora. "Porque cansei de gritar/falar besteira". A iniciativa em não deixar-se mais preocupada e levar esse ser marinho a controlá-la. Seria o controle interno? Parece que é justamente um diálogo aberto com o leitor. Mediante essa experiência se verifica uma ligação sobre a presença dimensional do corpo nas relações. Proximidade. O sentimento de proximidade presume um território. Território é um lugar que alguém pode estar inserido. Onde quer estar.
Ao referir-se ao corpo e suas secreções, um sinônimo é demonstrado em uma das poesias da sessão quatro, "Albina das montanhas" (sessão 4):
antes de queimar a foto
tive certeza
que matei
a albina das montanhas
que comi com gosto
seu coraçãozinho repleto de emoção
que lambi os beiços sem revirar os olhos
logo em seguida.
E virou do vermelho,
cinza
Diante da fruição da ardência fotográfica, a indubitável certeza da matança de uma montanhosa criatura estranha a ter sido devorada através de seu órgão. O da vivacidade. Em um ato quase que protetivo de não demonstrar deveras perturbação ao "sem revirar os olhos". Degustação.
Através do recurso sinestésico, temos a experiência dos movimentos corporais, a criação de uma "morfologia", uma "sintaxe" dos objetos. No caso da poesia, o deslocamento corporal das palavras.
Interessante salientar o jogo de tonalidades entre "albina", "vermelho" e "cinza". Como se a mistura de todas as cores fosse uma transição de sentimentos, significações embutidas no eixo poemático da autora ao denotar o recurso da sinestesia. Vermelho, a vida. Cinza, a morte.
Em 'Noites intermináveis' (sessão 8), a escrita como processo de canalização da raiva, ironia.
há tempos deixei de dormir
para arriscar o tempo
brincar com a morte
o sangue é tinta que não se apaga
no papel talho minhas marcas com faca
cancelei o dia de amanhã
para cortejar a noite
É possibilitada a investigação do que foi dito nas últimas sessões - neste caso a sessão 1 -, sobre sangue e tinta. Zoe conserva o tratamento da linguagem em escrutínio, esmiuçando as palavras como em um jogo de quebra cabeças no qual quem está lendo se depara com imagens familiares, porém ainda assim alteradas.
Brincar com a morte e produzir marcas em uma página com um objeto cortante carrega consigo a identidade de romper uma poética palatável aos olhos. A poeta é certeira como um tiro ao alvo no que concerne aos seus sentimentos mais profundos.
Mergulho em apneia, portanto, é uma obra provocadoramente degustável em seus versos, tecida por linhas ambiciosas por suas construções em demarcações concisas, harmônicas. Ao contrário de um bandha, isto é, um bloqueio das forças vitais do corpo, a escritora flexiona para a catarse após ter reaprendido a respirar. Mergulho em apneia.
Poeta, editora e fotógrafa, Lorraine Ramos Assis, 25 anos, foi publicada em diversas revistas, tais como Ruído Manifesto, Mallarmargens, Vício Velho e Aboio. É estudante de Sociologia, na UFF. Integrou a antologia Ruínas, da editora Patuá, e a antologia LiteraturaBr. Escreve desde poesias a prosas, sejam poéticas, resenhas literárias ou ensaios. Concedeu duas entrevistas no canal "como eu escrevo". Colabora com o portal Faziapoesia e Revista Caliban.

não apenas um retrato dos nossos tempos, mas também um romance que chama a atenção para pensarmos o sujeito e o afeto
LAURA REDFERN NAVARRO - é poeta e quase-formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Toca a plataforma literária independente @matryoshkabooks, focada em literatura brasileira contemporânea.
Pensar a formação social do país dentro da construção de subjetividades.
Estudo sobre o fim: Bangue-bangue à paulista, de Paula Fábrio.
Por: Laura Redfern Navarro
Publicado pela editora Reformatório, com apoio do ProAC, Estudo sobre o fim: Bangue- bangue à paulista é o quarto livro da escritora paulistana Paula Fábrio. Partindo de uma premissa aparentemente simples - um roubo de bicicletas num edifício de classe média da cidade de São Paulo, o romance propõe uma discussão complexa que traz a construção de subjetividades ancorada na formação social do Brasil, refletindo, ainda, sobre a tendência neofascista que começa a se popularizar no país a partir de 2016.
Já de início, percebe-se que as seções em Estudo sobre o fim: Bangue-bangue à paulista são nomeadas a partir de espaços, indicando o deslocamento dos personagens de um espaço a outro - quase sempre, entre as estações do metrô paulistano Vila Prudente e Vila Mariana.
Nesse sentido, podemos identificar o destaque à disparidade social e espacial na construção dessa narrativa, sendo a Vila Prudente marcada por uma vida difícil com pouca possibilidade de mobilidade social, pela "malandragem" e pela crescente presença das Igrejas Evangélicas e a Vila Mariana representada por pessoas consideradas "educadas", "bem apessoadas" e com maior qualidade de vida, quase como se um bairro fosse o negativo do outro:
"Já o Magaiver não cultiva sonhos. Ele costuma dizer: 'na moral, eu quero casar e ter filhos, viver num sobradinho na Vila Mariana...' Aí um dos compade sempre o interrompe: 'Véi, na Vila Mariana não tem mais casa não...' Nessa hora o Magaiver masca uma bala de merda e grita: 'Cala a boca, retardado!'"
(p. 17)
No trecho, a desigualdade social é demarcada pela fantasia - o personagem Magaiver projeta um sobrado, mas esse tipo de moradia já não é proeminente na Vila Mariana, denunciando a disparidade das realidades entre os dois lugares, ainda que pertençam a um mesmo perímetro urbano.
Essa dualidade que se cria - rico e pobre; desejável e intragável; ideal e desgastante - vai ganhando força principalmente entre os personagens menos favorecidos da narrativa, esses que podem a vir ser sinalizados socialmente como "bandidos" - seja pela revolta contra a exclusão social, seja pela cor da pele, seja pelo bairro de origem.
É nesse contexto que se ganha o contorno do romance de Fábrio: planos e iniciativas moralmente duvidosas, estabelecidas por uma atmosfera de "nada a perder" que surgem da compreensão da coletividade de um sentimento de raiva e revolta que leva à necessidade de uma ação.
É interessante pensar como o adoecimento sistêmico - esse que se caracteriza pelo "nada a perder" - encontra combustível num profundo adoecimento psíquico, onde a necessidade de revolta e, mais do que isso, a necessidade de se justificar a revolta se tornam buscas incessantes nos indivíduos, facilitando a imposição de crenças irracionais. Na Vila Prudente, esse aspecto se evidencia pela expansão das Igrejas Evangélicas e de ideologias ultraconservadoras, próximas de um neofascismo.
O que se desemboca a partir disso? A humanidade desses personagens adoecidos e quase delirantes se vê em xeque. Mas, ainda assim, simpatizamos - ou, ainda, empatizamos - com eles. Entendemos o contexto que os violenta - e que, assim, os faz naturalizar a violência enquanto afetividade.
Assim, compreende-se Estudos sobre o fim não apenas como um retrato dos nossos tempos, mas também um romance que chama a atenção para pensarmos o sujeito e o afeto - mais precisamente, em como sua construção é indissociável de uma condição coletiva, seja ela histórica, socioeconômica ou material.

ALGUÉM LENDO EM SANTARÉM.
Água pra dentro de casa, aranha, cobra. Seis meses de pontes pra andar de um cômodo a outro. Costume. Igreja, mercado, tudo debaixo d´água. Seis meses de seca, plantação, verdura. Seis meses de água. Galinha no jirau. Carneiro engordando longe de casa. No alto. Comida à base de sal e milho. Seis meses de peixe na porta de casa. Criança morrendo de barriga d 'água; o homem das águas prefere a solidão e a paisagem líquida que o alimenta.
Comida é peixe, galinha, pato. Carneiro pra quem tem. Farinha quando é tempo da seca. Procura de árvores brancas, frutos maduros. Cata o cacho, escorrega pra baixo, cada cacho cinco litros de suco. Ferve água, joga fruto, amolece a casca. Macera. Mistura água, serve. Molha a massa no suco. Bebe um gole. Vai.
A febre e o pasto passam perto. As casas, o açaí, semeadura. Tudo no entorno fala a linguagem das águas. Elas sobem e descem com fartura. Não sei da questão mais que a rasura.
Suco de murici aguado na boca, caldo grosso. Pega no Mercado 2000 duas palmas de banana. O sol se põe e o barco avança.
Luiz Renato
Escrevo pra ti como se falasse ao pé do ouvido. Por que me fala sobre armadilhas se tem algum valor o que escrevo? Preciso compreender melhor. O que te enviei é fluxo contínuo pro qual entabulei um roteiro, mas sem me deter em fórmulas. Sou um caranguejo que teima em não andar pra trás. Morei no Guamá. Meu cotidiano em Porto Alegre era fútil demais. Morei no Bonfim, no Praia de Belas e em Petrópolis. Gostava das noitadas da Oswaldo, dos finais da tarde no brique, do Escaler. A ida pra São Paulo foi um choque. Como rato de livrarias pude adquirir pequeno acervo de preciosidades, você sabe, já falamos sobre isso. São Paulo me oferecia o que precisava naquele momento.
O aceno da estrada e a coragem da mudança foram estopins. Desci no aeroporto em uma tarde nublada. Ainda não conhecia a chuva das quatro. Gosto de morar na periferia; é onde se pode andar de peito aberto, mas com o pé no freio. Liguei meu celular com a playlist do Milton Nascimento e encarei Belém, em nome de Jesus. Quando botei o pé no chão, ouvia "Travessia", enquanto me deslocava de ônibus atentando pras placas, buscando um hotelzinho barato, pensão, ou coisa parecida. "Muito tenho pra falar".
Luiz Renato de Souza Pinto
Graduado em Letras-Literatura (UFMT), atua na docência desde 1998; Mestrado em História (UFMT) e o Doutorado em Letras (UNESP). Atualmente trabalha com Ensino Médio e Superior (Graduação e Pós-Graduação) no IFMT. Desenvolve oficinas de Escrita Criativa (em verso e prosa); Poesia e Filosofia; Letra e Imagem; Narrativas Curtas; Estruturas de Romance; Literatura e Outras Artes. Possui três romances publicados: "Matrinchã do Teles Pires" (1998), "Flor do Ingá" (2014) e "Xibio" (2018), "Cardápio Poético" (1993) e "Gênero, Número, Graal" (2017) livros de poemas. Autor também de "Duplo Sentido" (contos e crônicas) e as novelas "A filha da Outra" (2020) e "A gaveta, o lápis, o papel (2022).

Numerosos campo
Quando, há exatas três horas e meia
Me atrasei, minha acompanhante
O próprio estatuto do nepotismo cromático,
tratava de acalmar a magnitude de minha
aparência enervada
Compilado de quatro anos do privilégio da
sobrevivência
fui esguia
no volante
E quando, no tratar da palha
testemunhada nas cinzas de Theodor Adorno
ou retirada pela sucção dos lábios
ela me arrebatava,
e também soluçava se meus contornos conformavam a nuvem negra do
tempo climático
Você é o testemunho problemático, dizia ela
aproximando a cartela coberta por um canto
Por conseguinte, ao me ver dirigindo
Tento não me consumar demais em minha
própria vigilância
Fundamento das mãos sobrevindo
atadas aos olhos estarrecidos
e furados
Refaço, assim, o ato de quem sobrevive a
própria impossibilidade de se resguardar
Lorraine Ramos Assis
escritora, resenhista e fotógrafa carioca
O rei do nada
o erro aplainado ao transformar o lugar de dois afetos
entendidos
por observadores nas diversas pistas de circulação
gera as bases de resistência de um território
território que não se percebe se não se alcança pulsos melindrados
membros de um sustento em suspensão nos
bancos revirados no engodo - insalubre
a observância do abdicar do anonimato
transformado em rostos graxa pelo tempo
recobre a insistência do critério de uma
relação, atento ao vertiginoso aroma
para sairmos do que ancora - e ao mesmo tempo mobiliza -
é necessário escutar os sons
tirar quem esteja da casa
e nos ensimesmar
parcial naufrágio em si por breves tempos
longe a quem nos colapsa
mas não sem endereçar a pulsão ao sair de uma cama empoeirada
24h por
dia
não desejo arrebentar-me por fétido júbilo
de seus cadernos de uma era dourada
há muito destruída
que agora destroem minha garganta
minha única arma
Escritora e fotógrafa, Lorraine Ramos Assis, 25 anos, foi publicada em diversas revistas, tais como Ruído Manifesto, Mallarmargens, Vício Velho e Aboio. É estudante de Sociologia, na UFF. Integrou a antologia Ruínas, da editora Patuá, e a antologia LiteraturaBr. Escreve desde poesias a prosas, sejam poéticas, resenhas literárias ou ensaios. Colabora com o portal Faziapoesia e Revista Caliban.

O TESTEMUNHO DAS FILHAS DE LÓ
Em nosso favor temos a dizer que
Jamais conseguiríamos obrigar nosso pai a tomar qualquer bebida
Que jamais poderíamos olhar para nosso pai nu, depois da maldição que sofreu Cam
Por ter visto a nudez de seu pai, Noé
Que ainda que quiséssemos fazer isso de que nos acusam
Temos a dizer que nosso pai é velho e como nos teria possuído, às duas, embriagado?
Temos a dizer que não queríamos sair de Zoar para habitar com nosso pai uma caverna
Em nosso favor, invocamos o exemplo de nossa mãe morta por simples desobediência
Expomos aqui que vivíamos em luto e que por temor a um deus que transforma
mulheres em sal
Obedeceríamos às ordens de nosso pai, e não o contrário
Temos a dizer que quando invasores bateram à nossa porta, ainda em Sodoma
Nosso pai disse a eles: tenho duas filhas virgens, façam com elas o que quiserem
Suplicamos que compreendam que a descendência de nosso pai
Nos era tão importante quanto o era para o deus que matou sua mulher
Sabemos que sobre o lado fraco se pode caluniar qualquer coisa
E nós duas não temos sequer os nossos nomes
Em nosso favor, temos a dizer que
Quando acordamos
Já estávamos grávidas.
Adriane Garcia
Poemas inéditos.
Seu novo livro "A bandeja de Salomé" sairá pela Caos & Letras neste ano.
A COR DOS OLHOS DE LIA
Busco seu amor com esse desespero
Das mulheres que não puderam aprender de si
A não ser sobre os modos de agradar a um homem
A não ser este olhar pedinte e terno
Quero que passe por mim e não perceba
O quanto sou feia, o quanto meu nome
Pode significar vaca selvagem, sei que prefere
Uma ovelha mansa, bonita como Raquel
Sonho com nosso casamento assim como
Sonho com meu casamento com um homem
De qualquer nome, desde que me ame, desde que
Me diga a mim quem sou, pois sou apenas mulher
Vejo meu pai me dando à sua cama, enganando
Ninguém, já que conhece bem a voz de Raquel
Nesta noite em que fingimos que sou ela
Porque quem mendiga amor toma de empréstimo
Ouço o sino do desprezo, torno-me esposa
Você trocando nossos nomes, enquanto me toma
Mais sete anos para que meu pai lhe venda
Outra mulher, outra de nós, e faça um bom negócio
Gero um filho, sei que agora me amará
Gero outro filho, tudo ficará melhor do que antes
Gero mais um filho, você ficará ligado a mim
E mais outro, as mulheres dirão que sou feliz
Aprendo a carregar barrigas, a ser mãe e mãe
E mãe e mãe e mãe à exaustão dos dias
A esperança em cada filho amortecida
(pareço sempre pior na sua presença)
Quedo no tempo registrado no corpo, estou parindo
Raquel está parindo e você é viril em nossas servas
Deus se lembra de nós nos dando mais filhos
Você sequer se lembra da cor dos meus olhos.
* Todos esses poemas são do livro inédito A bandeja de Salomé.
Adriane Garcia, poeta, nascida e residente em Belo Horizonte. Publicou Fábulas para
adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura 2013, ed. Biblioteca do Paraná, 2ª
edição pela ed. Confraria do Vento, 2017 e e-book pela Camino Editorial, 2021), O
nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (ed. Confraria do
Vento, 2015), Embrulhado para viagem (col. Leve um Livro, 2016), Garrafas ao mar
(ed. Penalux, 2018), Arraial do Curral del Rei - a desmemória dos bois (ed. Conceito
Editorial, 2019), Eva-proto-poeta (ed. Caos & Letras, 2020) e Estive no fim do mundo e
me lembrei de você (ed. Peirópolis, 2022).

Das coisas e dois elefantes azuis virados de costas
Renata Belmonte
Eu até tinha uns trocados, mas sabia que o sinal já ia abrir, então falei: fica para a próxima. Ela me lançou um olhar ofendido como se me perguntasse: e quando é a próxima? Será que você não vê que uma velha como eu não tem próxima? Com essas condições, você acha que ainda vou viver muito para esperar a sua próxima?

Uma vez e outra também erro
Michelli Provensi
Ela acredita que vagalumes são materializados pelo inconsciente coletivo. Eu da minha parte desconfio de parentes de besouros que só os machos são alados, mas acho lindo escuro e pirilampo. Ela odeia falar pirilampos. Diz que dá vontade de fazer pipi.

sufocada pela desmemória
Resenha do livro Cheia, de Natália Zuccala
por Laura Redfern Navarro
Afinal, talvez o mais angustiante de todo o romance não seja o esquecimento de Amanda acerca dos fatos, mas dela mesma. Assim, a presença de diversas violências que a atravessam sejam conflituosas, essencialmente, por lembrarem a protagonista de si própria, ou, ainda, de sua realidade.

O balão amarelo
Lima Trindade
Meu bem, agora, falava animado. Eu não o ouvia. De repente parou, deteve os olhos em mim e se virou de costas. Procurei o balão no céu. Ele já avançava sobre os postes de luz improvisados. E recordei da estranha manhã em que eu era muito pequeno e mal tinha aprendido a andar.
Foto: Marcelo Frazão

Poemas
de Daniela Avelar
uma criança constrói uma torre
para ser destruída:
alegria
pelos blocos que se espalham no chão
Foto: Tiago Luz

Para que afinal se faça luz!
Resenha do livro Para os que ficam, de Alex Andrade
por Krishnamurti Goes dos Anjos
Um escritor que se preze terá sempre e incansavelmente que retomar, reabrir e redimensionar temas, segundo sua visão-de-mundo. Indagações, perplexidades e desesperos humanos estão sempre a convocar e atualizar os temas básicos da existência.

O engodo de Laura
Andreas Chamorro
Laura reparou num monumento metálico, como dois grampos gigantes de papel que dançassem juntos. Três homens tomavam banho com a luz daquela manhã de dez de agosto deitados de olhos fechados, as roupas pretas e quentes, as peles imundas: poeira presa à semanas de suadeiras. Laura, você poderia estar na rua.

Ensaio sobre o livro Soluções de dois estados, de Michel Laub
por Euler Lopes
Sem maniqueísmos, o que temos é uma deliciosa personagem gorda, que se utiliza da ironia para defender suas ideias e que se, por um lado, não nega a sua existência e o que isso gera; por outro, apresenta suas ambiguidades.
Poemas
de Maria Eduarda Lima
tia glenda cospe lágrimas
a cada passada em meus cachos
me diz que estou bonita
que sou boa

O vaso
Renata Fiorenzano Marques
Brincava com a primalhada, em número maior a cada ano. Tinha o primo do primo. Tinha o "esse também deve ser teu primo". Todo mundo virava primo nas brincadeiras de rua, futebol, abafa, peteca, pique-tá. Passados uns dias, nem me lembrava mais de São Paulo.
Rara flor ferida
Fabio Santiago
Seria poesia
a ferida
que habitava o meu pé ferido?
Foto: Angela Grochocki Santiago

Farpas
Resenha de Júpiter Marte Saturno, de Irka Barrios
por Juliana Cunha
De contos fortes, sintéticos e sem metáforas óbvias, é difícil dizer sobre o livro, é mais fácil senti-lo. É ser ferido por uma farpa.

Minchoni elabora reflexões teóricas sobre as relações entre o poeta e o palhaço, os brincantes, partindo de sua experiência de mais de 20 anos como poeta da fala
Foto: Renato Nascimento

Coronárias: mulheres escrevem a pandemia
Fernanda Hamann
O testemunho de Levi me ensinou que, numa guerra, o escritor é o mais importante. Porque pode afetar as pessoas, gerações de pessoas, e fazê-las pensar que as guerras nem deveriam acontecer.
Poemas
de João Nunes Junior
o dólar a quase 6 e nós
aqui lidando com as estrelas
enquanto o suor retorna
para as cavernas do amor.

Há de brotar asas dentro de nós
Resenha do livro Nem sinal de asas, de Marcela Dantés
A personagem de Dantés é extremamente humana, e talvez por isso, ela tenha asas invisíveis que crescem como nódulos prestes a transformá-la em múmia, em corpo cristalizado, em morte.
Receba nossas novidades!
Faça parte do nosso cadastro e saiba, em primeira mão, o que preparamos para você.

- Edição #2
Contos, crônicas e poemas de Joca Reiners Terron, Mário Bortolotto, Jana Aguiar, Patrícia Galelli, Carlos Messias, Ian Uviedo e um quadrinho inédito de Clovis Stocker - Edição #3
O Amor em textos inéditos de Marcelino Freire, José Falero, Jéssica Balbino, Lara Matos, Natasha Felix, Morgana Kretzmann e Nadia Barros, entrevistas com Nara Vidal e Ramon Nunes Mello e ainda os cartazes feitos à mão por Marcos Benuthe, o Marquinhos, da Ria Livraria. - Edição #4
O Cinema escrito por J.P. Cuenca, Paulo Lins, Valéria Barcellos, Clodd Dias, Michelle Henriques, Jorge Filholini, Marcos Benuthe e Ian Uviedo e entrevistas com Fernanda D'Umbra e Paulo Lins. - Edição #5
Megalópoles multifacetas por Andrea del Fuego, Fausto Fawcett, Clara Averbuck, Alessandro Buzo, Paulliny Tort, Edyr Augusto, videopoemas de Morgana Kretzmann e Ian Uviedo e entrevistas com Andrea del Fuego e Fausto Fawcett. - Edição #6
Novas caras, novas letras, 22 escritores e escritoras e 15 artistas visuais numa edição especial, recheada com textos e artes de nossos estimados leitores e convidados. E mais, entrevistas exclusivas com Paula Toni e Fabio Maciel. - Edição #7
Sérgio Rodrigues, Ivana Arruda Leite, JoMaKa, Marta Neves e nossos editores Morgana Kretzmann e Ian Uviedo formaram a seleção de craques que escreveram em prosa e verso sobre nossas duas paixões, Futebol & Literatura. - Edição #8
A vez da voz negra nas artes e comunidades foi celebrada através da escrita de Lilia Guerra, Carlos Eduardo Pereira, Karine Bassi, Renato Negrão, Valeska Torres, Marcelo Ariel e da fala de Valéria Barcellos e Karine Bassi nas entrevistas. - Edição #9
Música e Literatura foram sintonizadas pelos versos, textos e notas de Angélica Freitas, Gustavo Galo, Cristina Judar, Ademir Assunção e Rodrigo Carneiro. Na crônica de Marcos Benuthe, os saudosos e saborosos pastéis da Merça. Nas entrevistas, Angélica Freitas e Rodrigo Carneiro. - Edição #10
Em nossa décima edição, atingimos 50 mil acessos, graças aos textos de Jotabê Medeiros, Camila de Moraes e Daniel Feix. Nas entrevistas, Jeanne Callegari e Jotabê Medeiros. - Edição #11
O luto solidário às vítimas da covid-19 e seus milhares de familiares e a luta pela esperança na superação da crise humanitária pela qual passa nosso país foi expressa nesta edição por Adrienne Myrtes, Paulo Scot, Marcela Lordy, Lucas Lins, Mariana Paiva, Ronaldo Bressane, Morgana Kretzmann, Ian Uviedo, Marcos Benuthe e Jarbas Galhardo. Nas entrevistas, Adrienne Myrtes e Lucas Lins. - Edição #12
Na edição comemorativa de 1 ano de RevistaRia, estiveram conosco assoprando a velinha as artes de Eva Uviedo e dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, os textos de Matthew Shirts, Marcela Dantés, Marcelo Montenegro, Larissa Zylbersztjan e Raimundo Moura. Nas entrevistas, nos brindando sobre a vida, Marcela Dantés e Marcelo Montenegro.